11 de março de 2010

Steampunk

O Futuro do pretérito

Steampunk é um subgênero da ficção científica, ou ficção especulativa, que ganhou fama no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Trata-se de obras ambientadas no passado, ou num universo semelhante a uma época anterior da história humana, no qual os paradigmas tecnológicos modernos ocorreram mais cedo do que na História real, mas foram obtidos por meio da ciência já disponível naquela época - como, por exemplo, computadores de madeira e aviões movidos a vapor. É um estilo normalmente associado ao cyberpunk e, assim como este, tem uma base de fãs semelhante, mas distinta.
O gênero steampunk pode ser explicado de maneira muito simples, comparando-o a literatura que lhe deu origem. Baseado num universo de ficção cientifica criado por autores consagrados como Júlio Verne no fim do século XIX, ele mostra uma realidade espaço-temporal na qual a tecnologia mecânica a vapor teria evoluído até níveis impossíveis (ou pelo menos improváveis), com automóveis, aviões e até mesmo robôs movidos a vapor já naquela época.
Este tipo de enfoque não é novidade, tanto na mídia quanto nos RPGs. O gênero Steam (vapor em inglês) há muito vem se popularizando e se mostra aos nossos olhos em filmes e desenhos animados como, a série O Mundo Perdido, a HQRocketeer, o filme Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, o seriado e o filme James West, o filme De Volta Para o Futuro III e os animes Steamboy e Full Metal Alchemist. Os filmes A Liga Extraordinária e Van Helsing são outros exemplos de filmes que trabalham exatamente este período da literatura. Viagens sobre trilhos de trens, verdadeiros hotéis flutuantes vagando em zeppelins e máquinas extravagantes de funcionamento complicado que fazem pouco mais do que um despertador pululam em cada canto do mundo.

Um computador pessoal em estilo Steampunk.


 steampunk wheelchair 

No nosso imaginário, a Ficção Científica sempre esteve relacionada ao futuro. O gênero sempre teve um quê de profeta, imaginando nossas vidas daqui a algumas décadas, séculos ou milênios - no livro Máquina do Tempo de H.G. Wells, viajamos mais de 800 mil anos no futuro. Assim, pode parecer estranho classificar como ficção científica uma história que se passa no passado, mesmo que seja um passado futurista como Steamboy ou A Liga Extraordinária 



Para o filósofo Jean Baudrillard, um universo de ficção científica é criado a partir de uma projeção exagerada das potencialidades do mundo real, "elevando à potência n" os meios de produção de uma sociedade qualquer. As possibilidades abertas pela ciência positivista, renderam, por muito tempo, milhares de enredos de ficção científica. A atenção desses escritores, que muitas vezes eram realmente cientistas, estava sempre voltada para o futuro, para o progresso da ciência. É certo que, hoje em dia, essa utopia se mostra cada vez mais saturada, a crise do pensamento positivista criou histórias de futuros cada vez mais pessimistas e apocalípticos. Diante desse aparente esgotamento de seu ganha pão, os escritores de ficção científica passaram a buscar novos mecanismos que mantivessem o gênero vivo. Em muitos enredos cyberpunks , como o de Neuromancer e Matrix , a dificuldade de criar o fantástico a partir do real dá lugar a uma narrativa que busca criar o real a partir do fantástico. Outro caminho a ser seguido é, ao invés de olhar sempre para o futuro, imaginar o passado com o olhar da ficção científica. 


Na verdade, essas são as características de todo um subgênero da literatura de ficção cientifica conhecido por Steampunk . Nas palavras de Douglas Fetherling, jornalista e escritor, um enredo Steampunk mostra "como o passado teria sido diferente se o futuro tivesse acontecido antes dele". Em oposição ao Ciberpunk , o Steampunk trata de universos onde o futuro e o passado convivem em extrema harmonia. Imagine o que aconteceria se nunca tivéssemos desenvolvido o computador, nem o microchip ou a energia nuclear, mas, ao invés disso, toda nossa tecnologia fosse baseada em cartões perfurados, estruturas de aço e motores a vapor ( steam , em inglês, quer dizer vapor).
Geralmente, as histórias de Steampunk se passam na Inglaterra do final do século XIX. Essa escolha não é aleatória, é na Inglaterra vitoriana que se dá o auge da Revolução Industrial, além de ser nessa mesma época em que a literatura de ficção cientifica daria seus primeiros passos. H.G. Wells é, de fato, a maior influência do Steampunk . Com a viagem no tempo em A Máquina do Tempo , a biotecnologia de A Ilha de Dr. Moreau e a invasão alienígena de A Guerra dos Mundos , Wells trata de temas caros à literatura do gênero, dando o ponto de partida de toda a ficção científica. Seus livros são quase sempre ambientados em uma Inglaterra positivista e burocrática, onde a humanidade experimenta um mundo moderno, tecnicista e decadente. Essa dualidade é central para a criação da Ficção Científica, o último suspiro do imaginário cientificista na literatura.
É certo que Wells vivia no século XIX e, por isso, sua imagem futuro só poderia está influenciado por essa época. Mas, no início da década de 1980 surgiram alguns livros que parecem ter suas histórias inspiradas pela atmosfera dos livros de Wells. Esses escritores realizam um salto duplo - para o futuro a partir de um retorno para o passado vitoriano - e assim nasce o Steampunk, que transporta as idéias e convenções da Ficção Científica moderna para a Inglaterra do século XIX. Isso não quer dizer que todo enredo Steampunk deva se passar na Inglaterra. Algumas histórias que se passam em outros cenários - como o novo-velho-oeste tecnologicamente bastante avançado dos filmes De volta para o Futuro III e As aventuras de James West.
Existem três autores básicos, surpreendentemente americanos, que se deve ler para entrar em contato com o universo do Steampunk . K.W. Jeter, James P. Blaylock e Tim Powers foram colegas de faculdade no sul da Califórnia e, depois das aulas, reuniam-se em um bar para inventar suas histórias. Entretanto, desses três, somente Tim Powers foi publicado no Brasil. Seu livro mais famoso, Os portais de Anúbis (Editora 34, 384 páginas), ganhou o Philip K. Dick Award, o mais importante prêmio da moderna Literatura de Ficção Cientifica nos Estados Unidos. A colonização da África pelas potências Européias é o ponto de partida de uma história em que um viajante do tempo descobre uma conspiração mágica que envolve desde o Egito Antigo até a Inglaterra vitoriana, passando pela Califórnia dos anos 80. Esse livro foi um dos primeiros do gênero e ajudou a formar muitas de suas convenções. Dessa forma, a ficção científica continua a olhar para frente, não mais com uma idéia linear de futuro, mas para diferentes tipos de futuro. O futuro do presente (a ficção científica clássica de HG Wells), o futuro do futuro (o Ciberpunk) e o futuro do pretérito (o Steampunk). 
Fique a seguir com as esculturas Steampunk do belga Stephane Halleux.

Clique aqui para ver o site do artista 

Uma origem plausível para o steampunk dentro de um contexto de mídia deve ser o filme original mudo Viagem à Lua, de Georges Méliès, que retrata uma viagem à lua, usando as tecnologias da época (especificamente, usando um grande canhão para ejetar um 'foguete' no espaço).


Um filme de 1902, com 14 minutos de duração, produzido pelo francês Georges Méliès, que também desenhava os cenários, o guarda-roupa, criava os efeitos especiais e fotografava. Tinha em seu elenco Victor André, Bleuette Bernón, Brunnet, Jeanne d' Alcy e Henri Delannoy.
Foi produzido em preto & branco e é o primeiro filme da história do cinema a tratar de seres alienígenas. Inspirou-se numa novela  de Júlio Verne.
É o filme mais antigo presente na lista do livro "1001 filmes para ver antes de morrer", de Steven Jay Schneider.
Fonte 1 2 3

2 comentários:

  1. Rosa Maria.

    Sou um Professor, Biólogo e Químico, e busco divulgar o espaço Verde Vida, relacionado à causa ambiental/humana. São imagens ricas e textos simples. Visite-nos e opine, se puder.

    Sua página é rica e plural.

    Felicidades em sua jornada!

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  2. Muito bom...
    Só o Capitão Sky que acho bem discutível se é de fato SteamPunk. Eu diria que é AtomPunk.

    Você devia se cadastrar no SteamBook.

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